Eu costumo usar as palavras rico, grandioso e solidário pra fazer referencia ao Brasil, mas isso é só uma fala.
A verdade é que vivemos num país onde extraordinários 43% dos
alfabetizados não sabem ler, mais de 50% dos municípios não possuem
esgoto tratado e 1/3 das Câmaras, Assembleias e Congresso Nacional estão
nas mãos de processados ou condenados em alguma instância do poder
judiciário.
Como dar jeito em um país desse?
Chatice crônica
“Parei minha moto no shopping, roubaram a tampa da válvula do pneu.
Tinha uma ótima tesoura Tramontina para tosar meus cachorros, mas alguém
a trocou por uma de pior qualidade. O médico me mandou tirar
radiografia desnecessária só para gastar dinheiro do plano de saúde.
Minha revista semanal sumiu na portaria do prédio…”
A prosaica semana de um leitor carioca de um bairro de classe média,
tão banal e parecida com a de milhões de brasileiros, mostra como o
roubo e a sem-vergonhice estão arraigados na nossa cultura, atrasando o
crescimento do nosso IDH, por mais que se invista em educação,
tecnologia e infraestrutura. Mas não estamos condenados a essa cultura
que privilegia a mentira e a fraude, que aos poucos vai cedendo aqui e
ali por força da lei, da policia e da Justiça, e aos trancos e barrancos
o Brasil vai melhorando.
Há quem acredite que o Brasil está rico, poderoso, soberano,
solidário, mas 43% dos alfabetizados não sabem ler, mais da metade das
cidades não tem esgoto tratado, 1/3 das Câmaras Municipais, Assembleias
Estaduais e Congresso Nacional estão nas mãos de processados ou
condenados pela Justiça. O que esperar dessa gente?
Ao contrário da cultura legal anglo-saxônica — baseada no pressuposto
que o cidadão está dizendo a verdade e sabe que vai sofrer graves
consequências se não estiver —, no Brasil a ideia básica é que, em
principio, todos podem, e devem, estar mentindo, daí a necessidade de
tantas exigências de provas e documentos e assinaturas e autorizações e
controles e fiscalizações, que aumentam a burocracia e, com ela, a
corrupção. Somos o país do “minto, logo, existo”.
Só aqui há documentos que precisam de “firma reconhecida” e outros
que exigem a presença física no cartório, como se umas fossem “sérias” e
outras não, mas as fraudes não diminuem. Por essas e outras abrir uma
empresa no Brasil leva vinte vezes mais tempo do que nos Estados Unidos
ou no Chile.
A verdade, caros leitores, é que são vícios crônicos inspirando uma
crônica chata, resultado de muito trabalho vão e de um grande esforço
para não falar do mensalão. Paciência, semana que vem melhora.
No Brasil a ideia básica é que, em principio, todos podem, e devem, estar mentindo. Somos o país do minto, logo, existo”.
Texto de Nelson Motta publicado no Jornal O Globo*