segunda-feira, 10 de junho de 2013
Para especialistas, redução de 40% em salários de docentes é 'imoral'
A redução dos salários dos professores da rede municipal de
Juazeiro do Norte (a 548 km de Fortaleza) é, no mínimo, "imoral" segundo
dois especialistas ouvidos pelo UOL. A prefeitura da
cidade aprovou na Câmara de Vereadores a reformulação do PCCS (Plano de
Cargo, Carreira e Salários) na última quinta-feira (6).
Alguns profissionais podem ter o salário reduzido em até 40% -- a foto de uma professora chorando de desespero foi divulgada na internet e se tornou ícone da situação.
Gratificações
Até o momento, o entendimento é de que a medida é legal -- uma vez que
serão retiradas gratificações. O salário base não será alterado, segundo
o projeto.
A prefeitura de Juazeiro do Norte disse que o corte no salário dos
professores foi necessário para se enquadrar na LRF (Lei de
Responsabilidade Fiscal) e reforçou que os valores pagos aos professores
não fechava a folha de pagamento.
Dar gratificações é um recurso comum na administração pública para
aumentar a renda do servidor sem onerar demais a folha de pagamento --
quando o funcionário se aposentar, por exemplo, os rendimentos serão
sobre o salário base que é menor que o valor que ele recebia enquanto
estava na ativa.
No entanto, o sindicato reivindica a manutenção do valor total e vai
entrar na Justiça pela reversão da medida. Segundo o Sinsemjun
(Sindicato dos Servidores Municipais de Juazeiro do Norte), filiado a
Central Sindical e Popular, foi reduzida a remuneração permanente dos
professores e percentual de regência de classe, de 40% para 30%, sobre o
salário dos profissionais de educação básica, além de extinguir o
pagamento de 40% de regência de classe que estão em outros setores por
motivos de saúde.
O sindicato enumerou ainda as perdas da categoria que foram: adicional
de planejamento de 10% sobre o salário base dos profissionais do ensino
fundamental; aumento da carga horária da hora aula de 50 para 60
minutos; além das diminuições dos percentuais da Tabela Vencimental, de
5% para 3%, e não definiu a forma de incidência do percentual de
adicional de 1% por ano de efetivo exercício.
'Imoral'
"É discutível, pois - segundo as informações disponíveis - o corte foi
sobre as gratificações. Ou seja, depende de uma consulta à Justiça do
Trabalho. Ainda assim, se for legal, é imoral. E abala a qualidade da
educação, o que é mais importante", afirmou Daniel Cara, coordenador
Geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
O presidente da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação), Roberto Leão, fez duras críticas à postura da Câmara de
Vereadores de Juazeiro do Norte. "Passa do absurdo essa aprovação e quem
fez isso devia ser preso. É um crime precarizar a categoria, que sempre
luta por melhores salários e condições de trabalho. A educação é a base
de tudo. Quando conseguimos um avanço vem uma coisa dessas. Ficamos
estarrecidos com a notícia", criticou Leão.
A categoria já decretou greve por tempo indeterminado e
nesta segunda-feira (10) as aulas foram suspensas na maioria das
escolas municipais.
De acordo com informações do Censo Escolar 2012, o Estado do Ceará
aparece em 4º lugar na lista dos sete Estados brasileiros com maior
número de contratos temporários de professores, que ultrapassa a
quantidade de contratos efetivos. Segundo o levantamento três em cada
dez contratos são temporários
Salários dos vereadores
Há cerca de um mês, os vereadores de Juazeiro do Norte aprovaram uma
lei aumentando os dias de férias parlamentar de 60 para 90 dias. O
Ministério Público Estadual fez uma recomendação para que fosse reduzido
o tempo para 60 dias, mas os vereadores justificaram que "apenas
oficializaram o tempo que ficam sem trabalhar todos os anos." Os
vereadores de Juazeiro do Norte recebem R$ 10.012,00 para comparecer a
apenas duas sessões por semana, uma na quarta e outra no sábado, segundo
informações que constam no site da Câmara.
Alexandre Garcia: 'Professores têm motivos para se afastar da escola'
Para o comentarista, o alto número de licenças médicas de professores é sinal de que há muita coisa errada.
O número altíssimo de licenças médicas de professores deveria ter servido, há muito tempo, de aviso para as autoridades da educação. É um sinal de que muita coisa está errada. Deve haver licenças sem motivo, sim, mas o que se vê é que a imensa maioria de professores têm motivos fortes para se afastar da escola em que lecionam. São professoras que são ameaçadas de morte por alunos marginais.
Pais ausentes, que só aparecem para brigar. Escolas, que deveriam ser
os prédios mais lindos e mais acolhedores do município, muitas vezes
estão em situação precária, sem instalações sanitárias compatíveis,
telhado que não isola do calor, muros derrubados, cercadas por
traficantes. Só abnegados para trabalhar em um lugar desses, por
salários que deveriam estar entre os mais altos do serviço público.
Em escolas onde diretores são eleitos, professores ficam sujeitos à
demagogia misturada à pedagogia; em outros, a direção da escola está
político-partidarizada e fica difícil ensinar o que realmente interessa.
Aí vem o esgotamento, a desistência e a fuga. A educação, que deveria
libertar, não liberta da ignorância que acorrenta à dependência. E quem
perde é o futuro, como mostrou o aluno sem aula: "quem tá perdendo é
nós.".
G1
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