segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

‘Em 2020, o computador terá desaparecido’

Em em seu último dia, a Campus Party recebeu físico americano Michio Kaku, que fez previsões para os próximos 30 anos

SÃO PAULO – Foram muitas previsões. Algumas com jeito de ficção científica, outras já possíveis de serem vislumbradas em um futuro próximo. Um mundo com lentes de contato tradutoras, lojas de órgãos humanos, robôs enfermeiros, computadores descartáveis e vasos sanitários inteligentes que diagnosticam câncer.

‘Em 2020 o computador como o conhecemos terá desaparecido’, disse o físico Michio Kaku em palestra na Campus Party neste sábado. FOTO: DIVULGAÇÃO

O responsável por todas essas previsões foi Michio Kaku, um dos grandes nomes da física teórica atual, que fez palestra neste sábado, 11, último dia da quinta edição da Campus Party Brasil. Professor da Universidade de Nova York, autor de nove livros e um dos autores da Teoria do Campo das Cordas, é chamado de “o físico do impossível” e foi considerado pela New York Magazine uma das cem pessoas mais inteligentes de Nova York.
Em seu último livro, Physics of the Future, lançado ano passado, Kaku faz previsões de como a ciência mudará o o cotidiano das pessoas e o curso da humanidade em 100 anos. No palco principal da Campus Party, ele se restringiu a fazer projeções para os próximos trinta anos.
Segundo ele, nesse período uma nova onda do capitalismo deve surgir e ela será baseada em biotecnologia, nanotecnologia e telecomunicações. E essas áreas determinarão mudanças profundas na economia mundial, na saúde dos seres humanos, no consumo, no mercado de trabalho e, principalmemte, na forma como as pessoas interagem com as máquinas e com a internet.
Se no início do século 19 os cientistas criaram a máquina a vapor e as locomotivas e essas invenções levaram à Revolução Industrial na Inglaterra e a uma época de muita riqueza e prosperidade, explica Kaku, em 1850, a economia mundial colapsou e o mundo entrou em uma época de depressão. Segundo ele, essa foi a primeira onda do capitalismo.
A segunda onda foi marcada pela eletricidade e os automóveis e culminou na Quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929. A terceira atingiu seu ponto mais baixo em 2008 e foi marcada pela alta tecnologia — computadores, internet, inteligência artificial, geolocalização.
O físico então, se propôs a prever o que será a quarta onda do capitalismo. Para ele, em 2020, o computador como o conhecemos hoje terá desaparecido. “No futuro, eles estarão em todos os lugares e em lugar nenhum, como a eletricidade.”
Tanto os computadores como a internet estarão mesclados em todos os tipos de aparelhos, como óculos ou lentes de contatos que identificam as pessoas com quem o usuário conversa e mostram informações biográficas sobre ela ou traduzem o que elas estão dizendo. A ideia é que informações online sejam projetadas no mundo offline e mudem a forma do humano interagir com seu meio.
A casa do futuro, segundo Kaku, papeis de parede inteligente que serão uma tela de 360º, em que será possível acessar todos os tipos de informação sem a necessidade de controles específicos, usando apenas movimentos, a fala e o pensamento.
O computador chegará até ao banheiro, com vasos sanitários equipados com chips que analisam proteínas da urina e alertam caso algo esteja errado, sendo possível inclusive diagnosticar possibidade de câncer por esse método. “A palavra tumor não esitirá mais no nosso vocabulário”, afirma Kaku.
E parece mesmo ser a área da saúde que a maior revolução se derá. Segundo o professor, os chips ficarão cada vez menores, pequenos o suficiente para conter uma câmera e um localizador e caber em uma pílula e para criar aparelhos de ressonância magnética do tamanho de um maço de cigarro. Tudo isso para ajudar no diagnóstico de doenças.
Entre as pesquisas atualmente em curso no campo da medicina que serão comuns nas próximas décadas Kaku cita nano partículas capazes de destruir s células cancerosas uma a uma, CDs que carregam o código de DNA de uma pessoa e que servirão como um manual de instruções de cada corpo, e chips implantados diretamente no cérebro que permitirão que deficientes recuperem capacidades comunicacionais e motoras.
Além disso, Kaku diz que a “loja de órgão humanos” não é uma realidade distante. Se hoje já é possível criar pele, bexiga, ossos e células sanguíneas em laboratório, “no futuro, criaremos qualquer tipo de tecido a partir das células do próprio paciente”, diz o americano.
População. Melhorias na saúde devem causar um movimento já observado claramente no Japão: o envelhecimento da população e a necessidade do desenvolvimento da robótica para lidar com as novas necessidades de cuidados demandadas pelos idosos.
Se, de acordo com Kaku, a robótica ainda produz apenas robôs com o intelecto semelhante ao de uma uma barata, em 30 anos, teremos robôs com a inteligência de mamíferos e capazes de ajudar nos cuidados de humanos.
Com robôs cada vez mais inteligentes, muda também o papel do ser humano na cadeia produtiva. Somem os trabalhos repetitivos e “de mediação” (atendentes, por exemplo) e criam-se trabalhos que demandam criatividade, imaginação, liderança e sensibilidade.
Começa-se assim uma nova fase do capitalismo, o chamado capitalismo intelectual, quando, segundo Kaku, as economias mundiais começarão a ser pautadas pelo índice de desenvolvimento intelectual que a população de cada nação tem a oferecer para o desenvolvimento tecnológico.
Kaku acredita que nos próximos anos veremos o surgimento do que ele chama de “capitalismo perfeito”, a perfeita conjunção entre consumo e informação, quando todo o consumidor saberá quanto custa, como foi produzido e como está sendo taxado o produto que ele decidiu levar para casa.
Se isso parece uma realidade muito distante? Não para Kaku. “As nações sempre tentarão controlar as informações, mas elas estão enfraquecendo ano após ano. Não há mais jeito de controlar a internet e a livre troca de informações”, afirma.

ESTADÃO.COM.BR

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